sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O fenómeno Américo Gomes


Não há dúvidas de que ao meio de tantas turbulências que por vezes tiraram a esperança dos guineenses, a cultura tem desempenhado um papel preponderante no processo de superação dos constrangimentos sociopolíticos que estrangularam o processo do desenvolvimento do nosso país. Ao considerar o contexto geral da expressão cultural em suas diversas formas, em especial destaca-se a musica e seus profissionais como verdadeiros heróis de todo um processo que aos poucos vai contribuindo para estabilização da situação sociopolítica da nossa sociedade e, como sempre, devolvendo o orgulho da “guinendade” aos guinenses.
A importância e a persistência dos nossos músicos na consolidação da identidade nacional pode ser testemunhado desde o processo da descolonização, onde assumiram o papel instrumental da mobilização e esclarecimento de diferentes sensibilidades do país sobre a sua condição perante as forças imperialistas opressoras, mostrando a necessidade de acção para resgate dos valores soberanos da nação. Neste processo, são nomes de vários músicos que teríamos que aqui citar como verdadeiros heróis nacionais e combatentes da liberdade da nossa querida pátria, o que não é o caso deste trabalho. Há que admitir que, num país onde tudo esteve parada, nada funcionou (política, economia), a música tem se mantido persistente, tornando-se o espaço de refúgio das nossas angústias, referencia de orgulho nacional durante todo este tempo graças a competência e cidadania dos nossos músicos. No entanto, este ensaio, muito longe da visão de um musicólogo, apenas tange a importância que o musico Américo Gomes tem para música moderna guineense. Em sua essência, mais que um artista guineense, Américo Gomes é a expressão do talento e criatividade da música moderna dos PALOPs, como tal, consegue transitar às fronteiras geográficas e culturais sempre engrandecendo “bandeira nacional”. Não vai aqui nenhum juízo de valor: pode-se gostar ou não desta expressão que ele representa,  muito injusto seria não admitir que ele é a expressão da  capacidade criativa, talento e inovação que reside no espírito do jovem guineense.
Ao ouvir algumas músicas do seu novo trabalho, os mais radicais críticos nacionalistas da música guineenses não hesitariam em apontar a sua fusão com os ritmos internacionais mais “pops” com aquilo que é ritmo genuinamente guineense. Mas também não é difícil argumentar o contrário: o que seria genuinamente guineense se até aquilo que julgamos ser originária da guiné não dispensa ritmos trazidos de outras fusões musicais. O facto é que, não dispensado de qualquer crítica e elogio, entre as duas coisas, encontra-se o limite exacto que baliza todo o “saber fazer” do homem moderno e é exactamente o que Américo Gomes está constantemente afirmando nos seus trabalhos. Para quem acompanha o percurso deste guineense na música, pode testemunhar a sua constância neste meio. O que em outras palavras traduz-se em carisma e a popularidade que ele tem conquistado. Américo Gomes é o musico do qual  os fãs esperam sempre o melhor e ele tem cumprido este pacto com aqueles que o admiram. De um álbum seguido de outro, vê se o progresso constante, prova a competência em fazer aquilo que se propõe fazer, assume o papel da cidadania com temas apelando unidade nacional, valorização daquilo que é nosso. Américo Gomes, em todas os seus trabalhos faz questão de afirmar sua identidade, primeiro, guineense como uma identidade politica agregada e a partir da qual, mostra que também é Manjaco filho de Canchungo expressando assim a essência de uma identidade híbrida que faz dele o fruto de um conjunto de valores e riquezas culturais, tornando-se num fenómeno que ele representa para cultura moderna guineense. Por outro lado, eis aqui a peculiaridade daquilo que é um profissional consciente da sua identidade e com o qual se justifica o talento, criatividade em forma da pessoa, cidadão, Américo Gomes.     
É este o espaço que ocupa no imaginário dos seus fãs: o espaço do mito. Ele não foi o primeiro grande ídolo da música do nosso país- para isto teríamos que apontar os grandes “elefantes” lendários da nossa música e não nos pouparia espaço neste texto- mas há que reconhecer, pelo menos, a seu tempo, foi aquele que conseguiu manter a constância da fama num ambiente dominado pela cultura da tecnologia, que surgiu com o fortalecimento das redes sociais, especialmente o segmentado para jovens. É pertinente, portanto, afirmar que o fenómeno Américo Gomes é o que há de mais tradicional e ao mesmo tempo, moderno na música guineense.
Eu como guineense, não poderia deixar de dar o meu contributo, desta maneira, dar os parabéns ao Américo Gomes, pelo trabalho e o seu contributo para nossa cultura e como jovem, sinto orgulho de ser representado por ele. Fica aqui a minha força e votos de sucesso em tudo que ele faz.